sábado, 28 de julho de 2007

Um sonho.

Finalmente chegamos ao tanto repercutido restaurante. Havia poucas pessoas sentado nas mesas. Pegamos uma logo atrás. Para manter uma certa privacidade, onde ninguém poderia nos ver - logo aqueles que passavam pelas ruas, mas seria uma tolice nossa, pois quase ninguém passara e seria uma probabilidade muito grande a de encontrar alguém conhecido e bisbilhoteiro, até porque não tínhamos nada a esconder. O cheiro de comida era emanado pelas quatro cantos do lugar, uma apreensão mista com uma voraz vontade de alimentar-se fez-me pegar rispidamente o cardápio. O tempo era pouco para olhar aquele cardápio pela minha exasperada fome. Gisele ficou a fitar algumas pessoas enquantou eu fitava qual seria a comida que serviria. Escolhi um fondue de queijo e um filé au chateaubriand. Ela adorou o pedido e entreguei o mesmo ao garçon, pedindo para ser breve com o pedido. Começamos a conversar, embora sendo uma conversa muito sério, da qual nunca seria sujeito a começar. Por segundos, após entregar ao garçon, Gisele fez-me uma pergunta:

Você já amou?

É uma pergunta um tanto fácil e difícil. Acho que a facilidade combina com a dificuldade. Hoje, no meu estado incólume de pensar sobre determinado assunto, posso dizer com toda franqueza que nunca amei. Respondi.

Por que você nunca amou? - Ela continuou insistindo.

Suponho que nunca amei, e isso tenho como conceito básico e trivial da vida, pois, para mim, amar ultrapassa qualquer entendimento de desejo, afecto e tantas outras coisas que mundialmente é vista de uma forma irregular. Como posso amar o ''meu amor(a mulher do meu coração)'' se não aceito aos outros que estão na rua pedindo alimento, se repudio tantas pessoas e brigo com muitos sem necessidade. Nisso não há amor, e para o amor, deve-se esvaziar o ego. Deve-se prostrar-se diante da plenitude da verdade, embora seja cruel e desmotivada. Mas você poderia dizer que isso seria impossível e que todo o ser humano tem o direito de viver errando, cair no pensamento e atitude pecaminosos. Mas eu digo com quase toda a certeza - pois a total certeza eu não a possuo, e nenhum mortal possuirá, pois é atributo à Deus -, que o que se deve fazer é uma ponderação das coisas. Não é omitir o pecado pois acho que ninguém consegue, mas amortecer de uma forma que seja vivificante o amor e latente em sua vida. Fazer o bem sem olhar a quem. Tanto além como aquém das possibilidades. Amar não se resume em prazer, alegria. É trabalhoso amar, é árduo e muito paciente. O problema é que pensam - e não sei de onde tiram esse juízo - que o amor é apenas alegria, que é muitas vezes o próprio beijo na manifestação do acto de amar.

E por que não amar ? - Gisele mais uma vez tenta entender.

Não é uma questão de não querer amar, mas de ser pleno desse sentimento. Tenho que estar preparado para aguentar e segurar a barra. Preciso de tempo, além da conduta certa para não cair na condenação da vida, não posso enganar aos outros nem a mim mesmo. Seria um hipócrita e isso não quero. Amar não é um jogo, nem os momentos de êxtase. Começarei quando perceber que estarei no caminho certo. O amor é mais válido dessa forma, mais genuíno. Renuncie-se a si mesmo e faça valer o valor universal de todas as pessoas, independente de suas classes sociais. Isso é apressar o amor, é querer que logo seja feito a morada em sua vida, a morada do amor.

E se aparecesse alguém que você realmente amasse? - Ela novamente perquiri.

Ora, isso seria contraditório ao que eu penso. Aparecer alguém? Não. Eu penso que para amar alguém - e isso depois de você estar pleno do sentimento verossímel - deve-se haver o contacto com a pessoa durante muito tempo. Uma ligação fraternal de longas datas. Por isso que é muito fácil ver o desequilibrio amoroso nos casamentos. Além das consequências e interrupções alheias, há também o mal desenvolvimento do amadurecimento do casal. O amadurecimento deve ser constante e não algo extático. E com relação a encontrar a pessoa quem irei amar, seria um equívoco, pelo menos para mim, pois como já mencionei, deve-se ter uma realidade fraterna para que possamos compreender os defeitos e aceitá-los e entender também as qualidades.

O garçon chega com a comida. Um prato delicioso com labaredas de fogo pequenas embaixo. O filé, protamente posto em cima da mesa é uma referência ao nosso anseio intímo. Gisele diz:
- Bom apetite.
- Já está bom pelo cheiro - disse-lhe.

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Quem sou eu

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Nasci em Recife, mas logo fui morar na cidade da Vitória de Santo Antão. Hoje, aqui, sinto que é uma particularidade íntima. Esse meu viver, minhas afinidades com essa cidade, transporta-me a outros mundos.''Sou a fusão do adulto maduro e o menino tenro''. ''Cogito ergo sum'' Escrevo desde os 16 anos e descobri na escrita um pedaço de mim, uma ânsia ardente e gostosa. Não reviso meus textos. Escrevo contos, romances, novelas etc.