sexta-feira, 6 de julho de 2007

Cinzas do tempo.


Acordei tarde e naquele fluxo de pré-situado no espaço e tempo - coisa que nos acontece quando estamos em outros ambientes, e que, é comumente notório ao se deparar com o estranhamento, mesmo sendo aquilo, horas antes, já habitual - deixei-me levar pelo clima frio que me acordava juntamente com os passos da mulher. Era ela quem eu estava viajando, dócil, amiga, companheira. Preparei-me após um longo período estático, na cama. Com a cara imberbe, mas vendo o azulado comum, quando se apara a barba num dia anterior, fui-me adentrando ao banheiro onde liberei o que habitualmente fazia. Após entrei no choveiro um tanto quente e gostoso que me fez despertar. Troquei-me e desci para o café da manhã no hotel, ela já estava a minha espera, na porta do refeitório. Não tive pressa em nada, fazia tudo na maior tranquilidade e com muita voracidade, pois era-me um dia muito especial. Não tinha como definí-lo, pois era o dia da minha visita ao distrito de Sant'Anna.
Lá, deparar-me-ia com alguns velhos amigos, ao clima de velhos tempos. Mas antes de qualquer actividade expectada, teria, pois que comprar, ou auxiliar na compra de algumas coisas para a mulher, ela precisava e de tanto que gostava que fez-me inexoralvemente e independente de qualquer coisa, não hesitar em fazer o que lhe era programado. Nunca quis fazer compras com mulheres, acho isso coisa para mulheres apenas, e quando um homem deve - por obrigação do destino - fazer compras, dever-se-ia fazer sozinho, pois é mais conveniente para ele. Pus-me no carro, após a alimentação que tipicamente me faltava e seguimos rumo ao destino esperado. A estrada não foi muito árdua conosco, colocamos uns CDs, à medida que finalizava um, pois era grosseiro e para entardecer àquele lugar. Ao chegarmos no rumo, já eram meio-dia, e a hora de almoçar. No caminho nada houve de extrarordinário, pois foi numa traqüilidade, apesar de um ''quebra'mola'' que passei com agressividade, pois não o vira. Quando chegamos, fomos logo para um belo restaurante onde normalmente comia quando vinha para rever os amigos. Comemos e nos preparamos - pelo menos eu - para a grande caminhada onde possivelmente me cansaria, de tanto trabalho que seria seguir a mulher. Lojas e mais lojas, rostos e mais rostos me apareciam, provadores, etiquetas. Fiquei absorto naquelas pequenas coisas, não queria nada para mim pois era até desagradável, depois de tanto esperar a mulher numa das primeiras lojas femininas, e até porque nada era interessante para mim. Fiquei a olhar, cada segundo que os compradores invadiam o íntimo da pessoa - dizendo até se por um acaso o cliente fosse para uma festa de certo espécime, usar a roupa apropriada, mas eles falavam num tom insolente de pergunta, como se fosse grandes amigos dos clientes para saber sua vida social - era absurdamente anti-ético aquela posição.
E sem falar nos muitos que iludiam os clientes com tantas fantasias, dizendo até para alguns, que estavam magros e lhe cabiam perfeitamente, muito embora fosse uma tremenda mancada e dissimuladas conversas. Fiquei indignado com tamanha audácia que via naquelas lojas no meio da rua que senti receio de comprar mais alguma coisa, e se fosse comprar, seria sem a presença daqueles falsos conselheiros. Eles queriam era vender, fazer um capitalismo selvagem que apropriava-se do cliente como se quisesse manipulá-lo falando em moda, design e tantos atributos que estão impregnando-se cada segundo na cultura de cada povo. Era-me ensurdecedor aquelas vozes, sussurros, mentiras! Não me era agradável mais andar pelas ruas e ver aqueles lobos-homens, lobas-mulheres.
Fiquei quieto, despenquei numa loja e lá sentei-me. Restava-se esperar, esperar passar aquela dor, agonia. Não sabia dizer o que sentia, e nem me entendia. Pensei até que eles que me enfeitiçaram de uma forma para que não tivesse meu diritto a fala. Respirei, levitei. Era tarde e passavam das três horas. Estava na hora de visitar meus amigos. A vida na cidade grande e com regalias me impedia de raciocinar de forma adequada, pensei tanto que cheguei a conclusão, mesmo sendo um grande psicólogo: Oh, como eu não conhecia o homem, nem o mundo em que vivia!

Caldas do Jorro - BA

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Quem sou eu

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Nasci em Recife, mas logo fui morar na cidade da Vitória de Santo Antão. Hoje, aqui, sinto que é uma particularidade íntima. Esse meu viver, minhas afinidades com essa cidade, transporta-me a outros mundos.''Sou a fusão do adulto maduro e o menino tenro''. ''Cogito ergo sum'' Escrevo desde os 16 anos e descobri na escrita um pedaço de mim, uma ânsia ardente e gostosa. Não reviso meus textos. Escrevo contos, romances, novelas etc.