quinta-feira, 5 de julho de 2007

Perene.

Para todo caso de descaso, temos a livre e adocicada solução. Não me foi fácil chegar ao lugar onde regozijo hodiernamente, precisamente, neste extático tempo que delinea nas palavras (ponto) . Acordei-me com os olhos grudados de remela. Foi o momento inicial de uma longa jornada de muitos campos e matas, onde cortei, mas não no sentido literal, lato sensu, da palavra. Cortei-os pelas estradas secas e molhadas, gélido e latente.. o caminho fez-me flutuar de forma única, para a lua, onde por milhares de vezes que estive sobre o intinerário, assomava-se volumosas crateras extra-terrenas - isso pelo desvio exacerbado e esbaforido, num tom dissimulado pelos ''donos do chão'' que iludem a cada dia aos nossos cidadãos. Os animais - quão saudosos eram-me aqueles tempos onde ao transitar com meus pais para a cidade grande, percebia a variedade, de até o símbolo do meu lugar, e encontrava tantos animais que substancialmente me fazia fantasias.. deixava-me solto, livre, sem contacto com a impressão maliciosa nem vulgar que o mundo oferece hoje em dia. Voltando ao meu caminho, percebi que poucos animais apareciam no céu, ora escuro, ora claro pelas alterações constantes do clima que insistia em deploravelmente oferecer o que lhe fora oferecido. Chegando ao lugar onde eu estou agora - que me foi árduo até chegar aqui, deixando-me preso ao próprio formato do assento e do encosto do carro - consegui, pelo menos, a minha mais graciosa recompensa. Ao deixar as coisas no hotel, onde costumo com frequência permanecer, fui logo dando uma vista geral na cidade, com meus pés que tanto pediam para movimentar-se. O triunfante e prêmio meu, estava me esperando em plena praça. Sem ninguém para empertigar, num momento que só mesmo a oportunidade me concedera. Andei, vaguei, revivi. Troquei olhares, mudei o andar, tentei alterar as coisas, sair da rotina. Isso era bom.. até o jeito de olhar eu troquei.. Isso me fazia feliz. Ao chegar finalmente na praça, tirei minha roupa, deixando apenas o traje de banho. Era o próprio jorro que me enfetiçava de frente para mim, que me trazia tantas lembranças afáveis. Senti-me entregue àquele clima tão cálido e com um olhar audácioso, tentando me desacatar ou até mesmo fazendo uma aposta para ver se eu aguentaria, aquele manancial quente, com cerca de quarenta e oito graus revestido, como uma dama-princesa nas jóias reluzentes e fortes, com o teor puro do sulfúrico e de tantos caracteres mineirais e ademais dos quais nem sabia, foi-me envolvendo a cada ponto, a cada micro-gotícula que escoava daquela voraz imensidão de água. O cheiro me deixava ébrio, mesmo não em contacto corpo-a-corpo com tudo. Fiquei pensando, reflectindo.. era um momento de puro êxtase. Era algo que chegava equiparável com a minha inebriante sensação de pleno deleite, regozijo. Tomei a coragem perfeita de um cavaleiro em guerra. Via-se a rarefez do vapor que transbordava os limites daquela enxurrada. Ao tocar-me, fui cedendo, revivendo, tornando-se inúmeras etapas da minha vida. Como se aquilo retrocedesse cada momento vivido no mesmo lugar, na mesma freqüência e vibração. Senti-me aliviado com tudo aquilo. Era saudade do mais secreto de cada um ser humano, saudade do que era necessário, e que tempo antes, ou vezes antes, era bemvindo. Relaxei de uma forma tão total quão todas as outras. Sentia-me completo. Mais uma vez completo.

Caldas do Jorro - 19 de Junho de 2007.

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Quem sou eu

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Nasci em Recife, mas logo fui morar na cidade da Vitória de Santo Antão. Hoje, aqui, sinto que é uma particularidade íntima. Esse meu viver, minhas afinidades com essa cidade, transporta-me a outros mundos.''Sou a fusão do adulto maduro e o menino tenro''. ''Cogito ergo sum'' Escrevo desde os 16 anos e descobri na escrita um pedaço de mim, uma ânsia ardente e gostosa. Não reviso meus textos. Escrevo contos, romances, novelas etc.