sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O campo e a flor.

O sol pairante nos tempos atuais não é motivo para sair pelo mundo a fim de queimar-se no tão inóspito. Mas tive, por impulso, que sair da casa e averiguar aquele campo tão verdejante e que nem parecia ser banhado pelo calor absurdo e quentura daquele radiante sol do meio-dia. O cheiro vindo do mato era fortemente captado por mim, como o farejar de um animal que possuí, dependendo de sua ordem na classificação taxonômica, um olfato aguçado. E isso fazia mais uma força para sair e deixar-me naquele sol, independente de qualquer coisa eu queria estar lá fora, sentir de pele a pele cada grau fruído pela bola de fogo celeste e pelo iluminado e reluzente campo de rosas e flores. Avistei, ao sair da porta principal, um lírio que de tão branco, parecia-me guiar em meio aquela fazenda tão bela. A casa estava pronta para uma belíssima foto, em meio àquele clima e iluminação. Os pedregulhos se amotoavam de uma forma alinhada, pelo caminho eu eu passava. O lírio tornava-se mais cativante ao aproximar-me dele. Abaixei-me e percebi que era um lírio intacto, nunca tocado nem visto antes, e sabia disto pelo simples instinto humano de posse. Na vida, eu tinha meus objetos que eram intocáveis e tinha minha vida como sendo fonte de egocentrismo, mas era um passado remoto. Não ousaria de lembrar-me daquilo que me fazia sofrer de novo. Mas era inevitável, aquele lírio branco me fazia lembrar da pureza do meu amor e da intocabilidade que eu dispusera para que jamais houvesse alguém para no meu amor tocar! Ousei reavivar de novo aquela ferida cicatrizada. Sabia que eu perdi o meu amor, pelo simples fato de não ter a moderação precisa! Não ser comedido! Não pensei duas vezes, e o ato já estava concretizado. Pela prisão e grilhões que eu colocara, ela fugiu quando menos esperei, quando realmente deu-se para fugir! O lírio me falava alguma coisa que se transformava em ar e eu respirava. Não entendia nada, mas aquele lírio de tão branco e puro, disse-me, sem palavras, sem dicção, sem fonética que eu deveria seguir seu exemplo. Abaixar-me, como eu já estava para vê-lo - e esse abaixar, significaria o respeito, reverência pelas pessoas, por haver diversidade entre cada um - e deixar meu egocentrismo e condição de posse para trás, porque o que eu estava vivendo, era justamente o que eu fizera. Mas eu não entendia! Como eu poderia estar vivendo na prisão, nos grilhões que eu mesmo deixara perseguir meu amor? Ele me disse numa harmonioza sinfonia que o fato desse espectro de perda estar me perseguindo agora, transformava-se no meu próprio aprisionamento. Agora era eu quem estava preso e sob todo o fardo causado. Sofrendo pelo amor. O lírio me ajudou a seguir a diante. Desde então continuei a observar e seguir o exemplo do lírio, puro, sagaz e perfeitamente compreensível. Não ousava deturpar nada que lhe explorasse e ficava naquela ocasião tão plácido, assim como deveríamos ser. Calmos e sossegados, sem a terrível noção de posse, nem a aterradora atitude de autonomia.

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Quem sou eu

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Nasci em Recife, mas logo fui morar na cidade da Vitória de Santo Antão. Hoje, aqui, sinto que é uma particularidade íntima. Esse meu viver, minhas afinidades com essa cidade, transporta-me a outros mundos.''Sou a fusão do adulto maduro e o menino tenro''. ''Cogito ergo sum'' Escrevo desde os 16 anos e descobri na escrita um pedaço de mim, uma ânsia ardente e gostosa. Não reviso meus textos. Escrevo contos, romances, novelas etc.